GAZETA DO POVO: CADÊ OS FEIRANTES.

Ontem observei uma foto curiosa para muitos no jornal "Gazeta do Povo" da minha cidade. Mostrava uma série de quiosques vazios e fechados dentro da da Rua da Cidadania Matriz, na Praça Rui Barbosa, sem qualquer função ou ocupação. E o próprio autor da foto perguntava o que estava acontecendo com as artesãs que deveriam ocupar estes espaços da Prefeitura. Confesso que chorei! Sei que além de pagarem aluguel para expor suas mercadorias precisam, logicamente, compradores, gente que circule para manter os locais. Pesquisando cheguei a conclusão de que as artesãs de todos os tipos estão sofrendo terrível pressão de editoras, e principalmente pela mídia via internet. Várias pessoas ligadas ao ramo explicaram que as editoras de revistas com trabalhos manuais antigamente solicitavam peças exclusivas e pagavam pequenos estúdios ou artesãs avulsas e que deixaram de fazê-lo, porque existem milhares de "artesãs", que em troca da colocação de seus nomes, blogs e telefones se deslumbram e entregam seus trabalhos gratuitamente. Muitas que estão lendo agora sabem que não tiveram retorno nenhum. Ao lado disso surgiu como impecilho para a manuteção de feirinhas, a bendita e as vezes maldita internet, aonde a gente passou a encontrar milhares de cópias de gráficos e explicações gratuitas pirateadas de publicações nacionais e estrangeiras. Resultado final: As artesãs que viviam com seus trabalhos ou ajudavam no orçamento doméstico, tiveram que abandonar esse ganha pão. As editoras tinham lucros com revistas de artesanato, mas as bancas de revistas hoje em dia mal expoem as edições alegando que escolhem a capa mais atrativa para mostrar, uma vez que dentro é tudo quase igual. A venda caiu 80 por cento nos últimos anos devido a quantidade de publicações parecidas. Para explicar corretamente:não cairam as vendas mas elas foram diluídas entre o número enorme de revistas quase iguais. Preferem expor muito bem as publicações de sexo e mulheres com o bumbum de fora. Nada contra as bancas! Elas tem que sobreviver.Outro motivo para a queda de vendas de artesanato foi a entrada dos produtos "made in China", a preços minúsculos. Enquanto uma artesã leva muitas vezes dias produzindo uma peça, o que vem de fora em quantidade (repetitiva) custa menos que um terço do nosso gasto com cada trabalho. Voltando à noticia do jornal, entendo que para manter um box funcionando devem haver vendas, porque o feirante, "artesã" tem despesas. Claro que existem excesões. Na minha cidade algo que começou minúsculo muitos anos atrás, se transformou numa atração turística. É a "Feirinha da Ordem" que funciona aos domingos até as 14 horas. Conta hoje com mais de mil barraquinhas e segundo dados oficiais, existe uma lista de espera para novas artesãs. Mesmo com o sucesso que atrai moradores e turistas que vem à cidade, muitas barracas tem dificuldades para se manter. Eu, por exemplo, ultimamente continuo recebendo muitos pedidos para envio de gráficos de ponto cruz, explicações de pontos e gráficos de crochê etc, mas no momento em que informo o preço do meu trabalho, simplesmente as pessoas somem achando que deveria mandar e fazer de graça, acostumadas que foram, como disse anteriormente, pelas editoras ou pela internet. Eu tinha mais de 20 artesãs que sobreviviam produzindo para meu pequeno estúdio (que paga impostos), e me submetia a uma série de exigências das editoras (atendimento ao leitor, nota fiscal, etc),mas nunca tinha qualquer garantia de continuidade dos pedidos. Simplesmente estou pensando em abandonar tudo isso pois não existe entre nós "artesãos", uma união e solidariedade. Não me queiram mal, mas é apenas um desabafo de alguém que ama o que faz e que de graça não pode trabalhar. Abs Adi
COLABORAÇÃO: CÉLIO BORBA

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